Cicatrizes: Desmistificar e entender a sua importância.

O tema das cicatrizes tem ganho cada vez mais protagonismo nos últimos tempos como assunto de debate entre colegas da área da saúde e também com os respetivos pacientes.
As cicatrizes, são cada vez mais, um fator muito importante a ter em conta na abordagem de diagnóstico de dores corporais que aparentemente nada têm em relação com as mesmas.
As cicatrizes são o resultado de um processo de recuperação e regeneração natural dos tecidos do corpo e sem este processo designado de cicatrização, não nos seria possível viver durante muito tempo após uma lesão.
Existem vários tipos de cicatrizes consoante a sua origem, sejam elas devido a queimaduras, cirurgias ou traumas, e também poderão ter algum tipo de complicações no seu desenvolvimento, como atrofia, hipertrofia ou queloide.
A conotação a que se dá quando nos referimos a uma cicatriz, normalmente é negativa, ou depreciativa, pois está comumente associada a uma experiência traumática seja a nível físico, como também psíquico e emocional. Com este artigo, pretende-se desmistificar; mostrar uma forma diferente de olhar para as cicatrizes; dar a conhecer a relevância e a influência que estas poderão ter nas diferentes partes do nosso corpo; e finalmente, salientar a importância do tratamento das mesmas para o bem-estar geral e específico do corpo humano.
Tendo sido, em toda a minha vida profissional, aquelas que mais impacto têm a nível físico e também a nível emocional, tomei a liberdade de aprofundar o tema das cicatrizes resultantes de cesariana.
As cicatrizes de cesariana têm um sabor agridoce. Da mesma forma que podem retirar alguma qualidade de vida da parturiente, também são responsáveis por permitirem dar uma nova vida com menos complicações ao bebé e à sua mãe.
Deste modo, num contexto emocional, deve sempre prevalecer uma abordagem positiva quanto à justificação da necessidade a que esta (ou qualquer outra) cicatriz foi realizada, servindo como forma de prevenir complicações emocionais que muito estão associadas a estes processos cirúrgicos. Estas emoções poderão mais tarde associar-se a estados mentais depressivos, ou até mesmo influenciar na interpretação dolorosa corporal, que também poderá estar ligada à tão famosa dor crónica.
Além dos processos emocionais, as cicatrizes estão muito associadas aos diferentes tipos de dor, tendo em conta a sua especificidade. Podem ser específicas ou inespecíficas (as últimas chamadas de dores referidas). As dores específicas, serão sempre na área da cicatriz e surgem em repouso, em movimento ou quando se estira e/ou se mobiliza a mesma; as dores referidas surgem noutro local completamente diferente da cicatriz e que estamos longe de a associar diretamente à mesma. Quero com isto salientar que, apesar de a cicatriz estar num determinado local do corpo, esta pode influenciar e causar dores noutro ponto completamente diferente.
No caso específico da cicatriz de cesariana, estas dores referidas afetam normalmente a zona lombar, zona púbica e zona interna da coxa até aos joelhos. No entanto, também existe a conexão com zonas mais longínquas do corpo como a zona cervical, ombros, e pode até ser uma das causas de dores de cabeça e de uma falsa dor ciática. Além disso, as cicatrizes influenciam a fluidez sanguínea, nervosa e linfática, que pode resultar em retenção de líquidos, pernas inchadas, alterações sensitivas, etc.
Depois desta demonstração muito generalizada da influência que tem uma “simples” cicatriz no nosso corpo e na nossa mente, salienta-se a importância da prevenção e tratamento das cicatrizes feito por profissionais de saúde competentes e qualificados para que estas não sejam fatores adjuvantes para futuras complicações na qualidade de vida de cada um de nós.
Wilson Rodrigues
Fisioterapeuta e Osteopata
1971 | Ordem dos Fisioterapeutas
C-0032212