A obesidade infantil é um grave problema de saúde pública que está diretamente relacionada com o aumento das taxas de morbilidade e mortalidade. A nível mundial, a prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes quadruplicou entre 1975 e 2016, e segundo a Organização Mundial de Saúde, 1 em cada 3 crianças dos 6 aos 9 anos de idade vive com excesso de peso ou obesidade. A obesidade infantil aumenta o risco para o desenvolvimento de obesidade na idade adulta, e consequentemente para o aparecimento de doenças, tais como a diabetes, as doenças cardiovasculares, e algumas formas de cancro.
Nos últimos anos, tem sido reconhecido o papel dos ambientes alimentares na prevenção e controlo da obesidade. Os estudos têm apontado para fortes associações entre o aumento da publicidade a alimentos não saudáveis e as taxas de obesidade infantil. As crianças têm uma notável capacidade de recordar os conteúdos dos anúncios a que foram expostas, tendo sido demonstrado que apenas uma única exposição à publicidade de produtos alimentares não saudáveis afeta as preferências das crianças, e que é reforçada por exposições repetidas.
A publicidade dirigida a crianças tão jovens é, pela sua própria natureza, exploradora. Na verdade, o marketing dirigido a crianças infringe alguns dos direitos que estão presentes na Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, nomeadamente os direitos fundamentais à saúde e alimentação, à educação e acesso à informação, e pode ainda infringir o direito de a criança estar livre de qualquer forma de exploração económica. Quando online as crianças e adolescentes são expostos à comercialização digital de alimentos não saudáveis, especialmente álcool e alimentos ricos em açúcares livres, gordura saturada e/ou sal. Sabe-se que esta exposição influencia diretamente os hábitos alimentares das crianças e, como consequência, promove ambientes alimentares obesogénicos.
A televisão é uma das principais plataformas para a publicidade alimentar e a maior parte da investigação existente que analisa o marketing alimentar dirigido às crianças tem-se concentrado na publicidade tradicional nos meios de comunicação social. Contudo, recentemente, observou-se que a televisão já não é a principal plataforma escolhida entre as crianças, tendo sido ultrapassada por plataformas de visualização online e dispositivos móveis. Também foram introduzidos os “advergames”, ou seja, a utilização de jogos online, como ferramentas para divulgar e promover marcas, produtos e /ou organizações. Para além disso, os conteúdos partilhados pelos influenciadores digitais estão associados a um grande impacto nos hábitos alimentares das crianças.
As crianças e adolescentes necessitam de proteção contra a exposição ao marketing digital, uma vez que as suas capacidades cognitivas ainda se estão a desenvolver. Depois de terem adquirido defesas cognitivas semelhantes às dos adultos, podem ser suscetíveis aos seus efeitos persuasivos. As plataformas digitais recolhem dados pessoais extensivos dos utilizadores da Internet para entregar publicidade comportamental, ou seja, elaboração de conteúdo publicitário, individualizado, para o consumidor, especificando com precisão as audiências e visando os mais vulneráveis. Apela-se à consciência social, e governamental, para esta realidade cada vez mais presente, no intuito de colocar em ação medidas preventivas de combate à obesidade infantil e para a promoção de uma alimentação mais saudável, equilibrada e sustentável, através do recurso às plataformas digitais da atualidade.
Nutricionista Inês Antunes – Cédula profissional Nº 5012N | Ordem dos Nutricionistas.